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#Blackouttuesday: o que você deve entender antes de postar?

blackouttuesday

Hoje as redes sociais foram tomadas pelo movimento #blackouttuesday. O instagram, em especial, foi inundado por posts com a tela preta e acompanhados das hashtag. Pessoas físicas, jurídicas, celebridades e vários perfis aderiram à campanha para mostrar que são a favor da luta contra o racismo. Mas tem algumas coisas que você precisa entender antes de aderir:

O que é o #blackouttuesday?

Trata-se de um movimento antirracista. Em português, poderia ser traduzido para “Terça-feira do apagão”. Ele acontece como forma de protesto virtual pela morte do norte-americano George Floyd, homem negro que foi asfixiado por um policial. Aqui no Brasil, também foi uma forma de protestar pela morte de João Pedro, menino preto que foi morto por uma ação da polícia em São Gonçalo.

O movimento foi iniciativa de grandes gravadoras norte-americanas: Atlantic Records, Sony/ATV, Sony Music e Warner Records. Depois, empresas como Soundcloud, Spotify, Vevo e YouTube aderiram também. Assim como vários artistas – e ganhou grande repercussão. A ideia é que os perfis não fizessem mais nenhum post hoje para ter apenas essa publicação sobre o assunto.

Reflexão: você deve postar ou não o #blackouttuesday?

Particularmente, acredito que esta iniciativa é extremamente relevante. No horário em que este post foi escrito, o Instagram já contabilizava 26,7 milhões de posts com a hashtag #blackouttuesday.

Posicionar-se contra o racismo – independente se for como pessoa física ou jurídica – é sempre válido. No entanto, acredito que este não pode ser um discurso vazio. É muito fácil aderir a uma hashtag. Mas e na prática, como é que a coisa fica?

Eu participo de um grupo de relações públicas dos EUA e hoje me deparei com uma publicação em que uma RP contava que recebeu reclamações de influenciadores negros, pois eles fizeram fotos para uma determinada marca e estas imagens nunca haviam sido divulgadas e eles nem haviam sido pagos. No entanto, hoje a tal empresa resolveu publicar estas fotos no feed, com a mensagem de que apoia estas pessoas.

Também tive a oportunidade de observar uma marca de moda noiva. Eles não aderiram à hashtag em si, mas a última foto do perfil mostra uma modelo negra com o vestido. Entretanto, ao rolar o feed, vejo que em 99% das fotos as modelos são brancas. Nos stories, eles colocaram uma mensagem um pouco mais evasiva, dizendo que respeitam a todos, etc.

Então, meu conselho é: mais do que postar uma hashtag, é preciso refletir sobre o que ela representa. Como você ou sua empresa poderiam se envolver com a causa? O que você ou sua marca poderiam melhorar? O que você pode fazer para mudar este cenário? Apoiar uma causa antirracista é sempre válido. Ficar só no discurso vazio é que não é. Não vale postar e daqui a uma semana esquecer o assunto. Isto tudo está acontecendo para nos fazer refletir.

Não use a hashtag #blacklivesmatter

Ao realizar o post hoje, muitos perfis usaram também a hashtag #blacklivesmatter. No entanto, logo alguns ativistas começaram a reclamar. Isto porque esta hashtag é muito usada para acompanhar os desdobramentos dos protestos – há muitas pessoas sofrendo violência e os ativistas usam a hashtag para monitorar os casos. Por isso, se resolver postar, não use #blacklivesmatter. Use somente #blackouttuesday;

Como a comunicação pode mudar este cenário?

Como jornalista, acredito que um dos papéis da mídia é (ou deveria ser) educar. Nesse momento, é importante dar voz a quem passou muito tempo calado. É importante discutir, apontar erros, mas também levantar soluções. Acredito que a mídia pode ter papel fundamental na inclusão.

Eu ouvi certa vez uma história sobre uma editora de uma revista de noivas que teve que se impor perante à diretoria para colocar uma modelo negra na capa. Acho que é extremamente importante que esta luta continue até que ela não seja mais necessária (espero que este dia chegue).

Como também trabalho com marcas e empresas, acho importante que esta discussão não seja passageira e que daqui a alguns dias isso tudo seja esquecido. E vale pensar em diversos pontos:

  • Como são as pessoas/modelos que você traz em seus anúncios? Você já colocou modelos negros ou insiste em usar bancos de imagens que só trazem pessoas brancas com aspecto estrangeiro? (Considerando que somos um povo totalmente miscigenado)
  • Quais causas relacionadas ao tema sua empresa poderia apoiar?
  • O que você poderia mudar na sua comunicação para gerar inclusão?
  • O que você poderia mudar na sua marca para gerar inclusão?

A intenção não é apontar dedos ou dizer que uma empresa é melhor que a outra, mas levantar uma discussão relevante e nos obrigar a pensar de uma forma que talvez não tenhamos feito antes. O que você acha que a comunicação poderia fazer para mudar a situação?

Infelizmente, enquanto estes casos que presenciamos nas últimas semanas ainda existirem, essa discussão será necessária.

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